sábado, agosto 04, 2007

Sinto vergonha de mim

Por Cleide Canton
Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade"
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância em esquecer
a antiga posição de sempre "contestar",
voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo
que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!
***
"De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto". (Rui Barbosa)
Estas palavras ditas por uma professora unidas às palavras de Rui Barbosa demonstram a frustação de muitos educadores que após tantas lutas pela educação vêem seus esforços não correspondidos.
Foram tantas lutas, tantos movimentos pelo que se achava melhor para a educação de um povo e sempre esbarrando no jogo de interesse e poder. Tanto que se tenta passar dentro da sala de
aula buscando o que se acha que é melhor para os pequenos no futuro e estamos sempre com a concorrência da malandragem, do oportunismo, de interesses do governo e até mesmo de próprios "colegas".

3 comentários:

biapedag.blogspot.com disse...

Oi, Neusa! Aqui está o que eu te falei pelo skype...
No caminho com Maiakóvski

"[...]

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

[...]"

Anônimo disse...

Oi mana!
Realmente cada dia que passa fica mais difícil de ter orgulho de ser brasileiro, muito mais fácil é ter vergonha.
Mas vamos continuar a fazer nossa parte, lembra da fábula do passarinho no combate ao incêndio na floresta?
Logo vou postar algo sobre esta brilhante decisão de nossa governadora sobre extinguir turmas de aula.
Carinho e beijos
Miro

Luciene Sobotyk disse...

Oi Neusa!
Já conhecia este texto que postaste e realmente..."sinto vergonha de mim..." porque votei em alguns deles!Bom início de semana e muita luz no momento da prova.beijos enormes cheios de carinho,Luciene